Parque Nacional de Timanfaya é a mais densa região vulcânica das Canárias.Um deserto negro, cuja carga mítica se adensa quando os reflexos do sol o mesclam com os tons quentes e vermelhos da terra queimada, é tudo quanto, ao longe, se vê de Timanfaya.As montanhas de fogo de Timanfaya são a apoteose de toda a paisagem vulcânica que caracteriza Lanzarote, a ilha mais oriental das sete que constituem o arquipélago das Canárias (Lanzarote, La Palma, Tenerife, Gran Canaria, Fuerteventura, La Gomera e El Hierro), cuja capital é Arrecife. Constituídas por crateras e picos, torrentes de escórias e superfícies de lava negra, simbolizam um dos mais fascinantes e assustadores fenómenos da Natureza. As erupções vulcânicas, maioritariamente ocorridas no século xviii (1730-1736), marcaram profundamente o aspecto de Lanzarote. Ainda hoje proliferam os relatos, transmitidos de geração em geração (e sabiamente reproduzidos pelos guias turísticos), sobre as trágicas noites vividas na ilha.A força do vulcãoConta-se que a 1 de Setembro de 1730, entre as nove e as dez da noite, se terá escutado um estrondo dilacerante que sacudiu a ilha em toda a sua extensão. A terra abriu-se em profundas fendas e delas elevaram-se colunas de fogo e lava de centenas de metros. Um terrível fumo cor de enxofre, cinzas e tenebrosas línguas de lava irromperam da terra. No início de 1932 as erupções alcançaram tal intensidade que os moradores tiveram de refugiar-se na Gran Canaria. Os pequenos povoados e a vegetação pereceram em poucos instantes, devastados pelo mar de lava. Tudo ficou literalmente destruído e onde havia verdes vales cultivados abriram-se extensões de cinza e lava. Mais tarde, algumas crateras entrariam novamente em actividade.Actualmente, é ainda esta visão apocalíptica que perpassa aos nossos olhos perante o cenário insólito de Timanfaya. Nos seus 200 quilómetros quadrados de extensão deparamo-nos com todo o género de restos vulcânicos, decorrentes da fúria de mais de 300 crateras a vomitar fogo sobre a terra e o oceano.Além dos autocarros (de 15 em 15 minutos, das 9 às 6 da tarde e no Inverno até às 17 horas), o acesso ao Parque Nacional de Timanfaya pode também ser feito de camelo. Independentemente do meio de transporte eleito, a viagem processa-se por caminhos conquistados ao mar de lava. Chega-se, então, às ditas montanhas de fogo, que se assemelham a um planeta desabitado. Algumas gretas abrem-se no chão, sendo que a apenas alguns centímetros abaixo do solo fervilham temperaturas na ordem dos 400 a 600 graus.Chegados a este ponto da visita, o guia propõe três provas de vulcanismo. A primeira consiste no derramamento de um cubo de gelo ou água, por tubos inseridos a cerca de dez metros de profundidade, e que, em contacto com o interior incandescente, são cuspidos do interior da terra com uma violência tremenda. A segunda implica sentir na própria pele os efeitos da terra quente, que nos é passada para as mãos. É como se fosse uma castanha ou uma batata quente a queimar a pele. O último teste demonstra a facilidade com que o capim arde em contacto com a rocha vulcânica. No El Diablo, o restaurante do parque, utiliza-se, inclusive, o calor libertado pela terra para grelhar os alimentos numa grade montada sobre um forno circular. Esta é apenas uma atracção/espectáculo do restaurante, uma vez que a maior parte da carne levada à mesa é confeccionada com recurso a métodos convencionais, mais céleres.Reserva da BiosferaTimanfaya não se esquece facilmente, tanto mais que a existência desta plataforma vulcânica foi um dos principais argumentos para a consagração da ilha como Reserva da Biosfera. O título foi atribuído pela Unesco em 1993, um ano depois da morte daquele que mais merecia assistir a esse reconhecimento: Cesar Manrique. Foi graças a este pintor, escultor, arquitecto, paisagista e urbanista que a ilha se manteve à margem das grandes correntes de desenvolvimento dos anos 70. Percursor do conceito de desenvolvimento sustentado, um princípio que pondera a salvaguarda das potencialidades naturais e culturais com a evolução económica, Manrique impulsionou os sete principais centros turísticos da ilha.
Que sortudo! (How lucky!)
Há 1 hora